sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Da prática

O parkour é uma prática que envolve alguns preceitos que, trabalhados de forma interiorizada no sujeito, opera no mesmo grandes transformações que se refletirão tanto na retidão de sua postura, como também, quando praticado com sabedoria, na retidão de seu caráter. Em suma, tratar-se-á de uma pessoa que observa o mundo e as situações de uma forma completamente nova.

- O corpo e suas potencialidades

Julgo que qualquer prática que tenha como objeto o corpo humano - ou seja, o próprio ser - deve saber aproveitar as suas potencialidades. A prática do parkour envolve o trabalho de conhecimento de si, na medida em que se é necessário durante o aprendizado e aperfeiçoamento a avaliação de sentimentos que operam em nós de forma decisiva em outras situações, como a capacidade de avaliar uma circunstância, a coragem que se tem para tomar uma atitude, a destreza mediante o inesperado; a fúria incisiva que dá o ímpeto para se alcançar algo que já se sabia alcançável, mas que se era necessário preparar a mente e adquirir maturidade para a execução.
Todas essas situações são postas diante do tracer de forma que ele deve inevitavelmente sempre estar aperfeiçoando o seu ser, na intenção de buscar sempre o mais profundo de si, para conseguir aquilo que quer e dar o melhor de si. Eis que opera a Vontade mediada pela auto-disciplina.

"Saber que sabemos o que não sabemos, e que não sabemos o que não sabemos; eis o verdadeiro saber." Confúcio

Tal frase encerra uma sabedoria profunda, pois, ao conhecer a si mesmo descobrimos do que somos capaz: eis o que nos permite trabalhar nas dificuldades na intenção de suprimi-las e superá-las. Todavia, descobrimos também daquilo do que podemos ser capaz, descobrimos sobre as nossas próprias potencialidades. Eis que nesse sentido, nasce dentro do tracer um sentimento que se reproduz na sutilieza com que executa o seu trajeto.

Porém, entendo também que, toda prática executada sem a devida reflexão ocorre de se tornar pródiga apenas por meio da repetição, e isto, todavia, não é o que busca o tracer.

Sua sabedoria adquirida lhe abre campos de visão antes ignorados.

Ele sabe que a a repetição por si traz somente uma capacidade não-interiorizada, que fazemos apenas porque aprendemos a fazer pela insistência. Perde-se a sutileza; maltrata-se o corpo, se embrutece o espírito.

- A noção dualizada

Visto que, alertado contra os contra-tempos, o tracer agora com uma certa malícia, sabe intuitivamente por qual caminho seguir, de forma que ele age como se estivesse em um percurso e observa tudo com minúcia e dedicação.

Porém, estamos falando de ambitos paralelos da vida, que é a prática de algo e aquele que pratica este algo. A essa altura poderíamos facilmente nos deixar enganar, caso não estivéssemos preparados para o que poderia vir.
Acontece que, não existe uma diferença real entre o que somos e o que praticamos, sendo sempre um complementar ao outro.

Ele sabe portanto, quando está a praticar, que ao transpassar um obstáculo é necessário distingui-lo enquanto algo que está para você, diante de você, mas que você deve sentir-se tão à vontade que você se tornará momentaneamente aquele algo. Existirá uma coesão então que não haverá diferença entre o mundo e você, então dessa meneira você terá desconstruído essa noção dualizada que acaba por impedir a sua própria evolução enquanto praticante, e enquanto ser.

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